Prenúncios de uma grande reforma: reformadores e movimentos que antecederam a reforma e seus reflexos hoje

No início do século XX, Ernest Troeltsch chamou o protestantismo de uma “modificação do catolicismo” dizendo que “os problemas católicos permanecem, mas foram oferecidas soluções diferentes”¹. Nesta reflexão vamos analisar de forma simples e suscinta alguns eventos que antecederam a reforma protestante que veio eclodir nas mãos de Lutero. Mas até chegar em Lutero, muitas vidas foram sacrificadas e punidas injustamente pelos mesmos religiosos que deveriam representar a igreja e proteger o povo. Ao arrancar o poder dos papas, renovar a igreja e suas doutrinas e Jesus voltar a ser o “único cabeça da igreja”, foi por meio da reforma que Deus não só transformou o cristianismo, mas toda civilização ocidental e cremos que ao analisar os eventos daquela época, é possível sentir que estamos beirando um novo acontecimento que mais uma vez renovará o cristianismo e a igreja na face da terra. Isto exposto, queremos dar destaques a pessoas e alguns movimentos importantes.

Deus levantou João Wycliffe e João Huss como reformadores

Entre as almas corajosas da reforma estão João Wycliffe, um inglês, e João Huss, um Tcheco, que ousaram buscar a verdade nas sagradas escrituras e confrontar a mentira e os erros da igreja e seus líderes com a verdade, desafiando toda gama de crenças e práticas medievais que consideravam fora da verdade bíblica. Foram grandes reformadores que não se curvaram ao domínio humano em nome de Deus mesmo lhes custando a vida. Ao ser levado para a morte, João Huss se ajoelhou, orou e disse: “na verdade do evangelho é que escrevi, ensinei e preguei; hoje, eu morrerei com alegria”².

Diante de tantos problemas sociais e religiosos os movimentos se multiplicavam e haviam várias linhas de pensamentos a respeito de como serviriam a Deus e a busca pela liberdade para servir a Deus com a verdade. Os sinais de ruptura da hierarquia religiosa estavam muito claros e evidentes diante da vida que levavam os Papas, os Bispos e seus protegidos em comparação com a piedade cristã e o sofrimento do povo e assim estava sendo anunciada a chegada de uma iminente reforma.

Ventos Fortes de uma Reforma Inevitável

Os líderes reformadores daquele tempo, como Savonarola, Borm, Jhon Huss, Wycliffe e Erasmo estavam totalmente atentos e comprometidos com a necessidade de uma reforma da igreja e sua transição para a piedade e verdade que haviam perdido. O cisma papal, o apego ao luxo, o poder despótico, os prazeres sensuais, o nepotismo, as cruzadas inglórias e todo tipo de excessos de uma liderança religiosa corrompida que os mantinha encantados pelo mundo e cada dia mais distante dos propósitos Divinos davam força aos reformadores que através dos movimentos reformistas faziam ferver também entre o povo pobre e iletrado que gemiam por justiça. Aqueles líderes religiosos e corruptos não prestaram muita atenção nos movimentos a sua volta porque estavam preocupados apenas com seu bem estar e isso os deixou cegos. É certo que julgaram e condenaram os opositores para os calar, tentaram proibir a fundação de novas ordens, como os Franciscanos, através do concílio de Latrão em 1215³, mas os movimentos e as mensagens dos justos eram imparáveis como vento forte soprando.

Nosso contexto e os eventos atuais que prenunciam uma nova mudança

O contato com a história do cristianismo nos alerta para um fato inegável que é a visitação de Deus em temporadas específicas. Quando a igreja se transforma em um sistema humano mesmo que prosperando, com o tempo, assim como os outros sistemas humanos ela perde força e deve enfrentar seu próprio juízo. Nosso contexto atual já não está muito diferente da história contada. Parece que temos os mesmos personagens em cenários diferentes. Vemos os apocalípticos, os eruditos, os despreocupados além de vermos os líderes corruptos e corruptores dentro de uma igreja desafiante. Hoje enfrentamos um cenário pandêmico que contribui muito para o agir dos enganadores e que também está levando muitas pessoas à loucura religiosa.

Os cenários parecem ser assim: hoje não temos os flagelantes mas encontramos pessoas que caminham 120 km a pé anualmente para garantir a benção de Deus e a salvação. Não temos o Taboristas mas temos pessoas que não veem dificuldade de usar uma arma contra outro ser humano em nome da sua crença e defesa política ou religiosa. E assim vamos observando cenários preocupantes para uma igreja que precisa realmente de um novo fôlego, um retorno ao evangelho puro e simples e uma reforma em nosso jeito de cultuar. A sabedoria de Deus nos mostra que na reforma de Lutero a igreja foi colocada nas mãos do povo comum, o seu povo frágil, imperfeito e na maioria das vezes sem força, para que todos voltassem a depender da Soberania Dele e pudessem fazer da forma de Deus e não do homem.

Por fim, depois do exposto, podemos entender que nada acontece da noite para o dia, Deus trabalha com um processo em que é necessário discernir o seu agir. Hoje já podemos ver novos reformadores surgindo por todos os lados com uma mensagem forte e verdadeira, os verdadeiros são aqueles que dariam a própria vida por ela. Deus levantará uma nova geração convertida dos maus caminhos e comprometida com o Reino do céu e com a humanidade como um todo. É totalmente verdadeiro que estamos mesmo vivendo outro momento crucial na história da igreja, algo está vindo em nossa direção e Deus é quem está trazendo. Todos estamos sentindo aquele sentimento anti-igreja como o anticlero, estamos vendo as injustiças e muitos não desejam parar e o povo está se agitando, mas nós não ficaremos fora do que Deus está por fazer, queremos está no lugar onde Ele quer que estejamos para acender a tocha desta nova reforma que se aproxima com os movimentos que já sentimos.

 

Obras consultadas

Gonzales, Justo L. Historia Ilustrada do Cristianismo: a era dos mártires até a era dos sonhos frustrados. Trad. Hans Udo Fuchs e Key Yuasa. 2 ed. São Paulo: Vida Nova, 2011.
Gonzales, Justo L. Uma Historia do Pensamento Cristão. Trad. Paulo Arantes e Vanuza Helena Freire de Matos. Vol 01. São Paulo: Cultura Cristã, 2004.
Shelley, Bruce L. História do Cristianismo: uma obra completa e atual sobre a trajetória da igreja cristã desde as origens até o século XXI. Trad. Giuliana Niedhardt.  Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2018.
[1] Bruce L. Shelley. História do Cristianismo. (Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2018), 260.
[2] Bruce L. Shelley. História do Cristianismo, 255.
[3] Justo L. Gonzales, História Ilustrada do Cristianismo: a era dos mártires até a era dos sonhos frustrados. (São Paulo: Vida Nova, 2011), 502.